sexta-feira, 11 de setembro de 2009

agosto através da janela

Sentada em frente a janela, Clara contemplava a chuva que caía em mais um dia cinza de Agosto, que, aliás, geralmente é um mês bem cinzento. Mas, dessa vez, parecia o ser ainda mais - chovia lá fora e dentro dela.
Foi quando Clara flagrou-se pensando em todas as ausências que, naquele Agosto, fizeram-se ainda mais presentes. "Ausências presentes", Clara pensou, "que ironia!". Ausências de que ou de quem, só ela sabe e não importa a ninguém mais. O fato é que ela as sentia e, naquele momento, teve como companhia apenas alguns vultos e remotas lembranças de um passado que ela mal conseguia recordar. Antigamente, Agosto costumava ter mais cor - e essa certeza sim, está nítida dentro dela. Hoje, envolta apenas pelo barulho da chuva incessante, Clara quis desfazer-se de todos aqueles pensamentos tão turvos que, bruscamente, surgiam em sua mente sem ao menos pedir licença, afastando sabe-se lá para onde toda a claridade, toda a cor dos dias de Clara.
Ela, que já fora assim, tão furta-cor. Transparente, também. Digo melhor: toda a cor de Clara transparecia, reluzia em seu rosto. E brilhava, como brilhava aquele rosto tão claro. E apesar da total ausência de brilho daquele momento, é bom lembrar que ela ainda brilha muito vezenquando, em dias claros de céu azul. Mesmo assim, Clara não sabe se realmente sente falta de toda aquela explosão de cores radiantes, mas está certa de que não precisa, de que não quer mais cinzas tão melancólicos.
Então, quando caiu em si, levantou para ver as horas e Agosto já tinha se desfeito pela janela, despedaçando-se pelo chão. Voltou a enxergar sutilmente colorido, e viu centenas de nuances dentro dela. Setembro já havia começado a florir sem que ela percebesse...

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