quarta-feira, 22 de abril de 2009

insaciável fome de viver

Além de apenas existir, tenho sede de viver e fome de viver a vida longe do óbvio, do comum, do vulgar, burguês e banal - uma vida de limitações faria com que eu perdesse o apetite facilmente.
Tenho sede para desvendar os meus limites, e fome para conseguir ultrapassá-los. Tenho sede de alegria e fome de tristeza - longe de mim a melancolia suicida dos ultra-românticos, quero mesmo é a inconstância, oscilar entre risos e choros (de preferência calados), viver apenas de momentos intensos e senti-los com toda a intensidade que minha fome puder suportar, pois o meu paladar é aguçado, não consegue degustar o morno, o insosso.
Minha fome pela vida grita, lateja, e sacia-se apenas com música, arte, poesia. Minha fome busca sempre mais conhecimento, precisa de diversão, quer cometer loucuras e ter bons momentos com os amigos. Mas apesar dessa fome desassossegada, também sinto fome de calmaria, de viver uma vida tranquila, seja em um outono nublado, ouvindo a chuva cair, entre filmes, livros e cobertores, seja em um final de verão na praia, assistindo ao pôr-do-sol ou ao nascer do dia, areia nos pés, brisa no rosto e toda a imensidão do mar à minha disposição.
Fome por desejo, necessidade ou vontade? Tenho fome de pão e sede de água, também. Mas minha fome é exigente, não aceita migalhas. Eu não quero comida, eu quero saciar minha fome apenas com a vida, sentir fome apenas de viver.



Faltou uns quantos detalhes no texto, mas o tempo está curto e, ultimamente, ando tão sem apetite...
- a angústia que traz a monotonia estreita a minha fome, mas ela segue aqui, é bom lembrar, mais viva do que nunca.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

a sede que aqui grita

O gosto do vazio é o que aumenta a minha sede até a boca restar seca, guardando todas as palavras que não posso - e nunca consegui - verbalizar. Incompreendidas, retraídas, palavras escondidas de sentimentos que também não entendo, apenas guardo. E quem disse que precisa fazer algum sentido?
Já não sei decifrar o que se esconde no mais profundo de mim, há muito tempo perdi a habilidade de ser racional com o que parece impossível de ser racionalizado, embora eu quisesse, e o tempo todo eu quis, ter controle sobre as minhas emoções, engavetá-las até criarem pó, mofando esquecidas em qualquer lugar onde não possam me perturbar. Pois aqui dentro já não há mais espaço algum para elas e o estrago já está feito: essa vontade de sentir não termina mais, os sentimentos se alastram tomando conta de cada pedaço do meu corpo: o coração contorcido, a mente ofuscada, a garganta desidratada que grita, com toda a sede do mundo, pedindo por um pouco de água ou qualquer outra coisa que sacie essa vontade sei lá de quê. Vontade de desaprisionar-se, talvez. De desaprisionar-se dos próprios sentimentos e sentir enfim um pouco de paz.
O problema é que, para libertar-me dos meus sentimentos, da minha sede e da minha vontade, primeiro teria que conseguir revelá-los a alguém, e essa técnica ninguém soube me ensinar. Talvez antes seja preciso sentir total segurança para não dar nenhum passo em falso, ganhar uma garantia, um certificado registrado e carimbado de que vou arrancá-los lá de dentro, com esforço desprendê-los e permitir que se revelem sem causar nenhum arrependimento ou dano depois - uma vez revelados, seria impossível ocultá-los novamente. Ou, talvez, eu devo deixar de lado o medo mesquinha, a insegurança infantil e aprender sozinha a libertá-los, sem precisar de garantia ou coisa alguma. Afinal, ninguém está livre de quebrar a cara alguma(s) vez(es) na vida, mas, mesmo assim, todo mundo deve desacorrentar o que se insiste em aprisionar, e só assim deixar de ser escravo de si mesmo - na teoria. Na prática, até agora, só aprendi mesmo é que entre todas as entregas receosas, as esperas, o cansaço, o vazio da ausência que restou, o que resta é sede, apenas.

"...E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

Deve ser.