sábado, 7 de março de 2009

lost in wonderland

Perdida em um turbilhão de angústias e incertezas do qual tento, mas nem sempre consigo sair, pensar já é difícil, quem dirá escrever. Então, pra começar, acho que esse trecho da Sylvia Plath, angustiante como a autora, fala por si só:

"Vi minha vida se desenrolar diante de mim como uma figueira de um conto que havia lido. Da ponta de cada ramo, um gordo figo roxo acenava e me seduzia com um futuro maravilhoso. Um figo significava um marido e um lar feliz com filhos, outro era uma poetisa famosa, outro uma professora, outro era Esther Greenwood, a surpreendente editora, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro Constantin e Sócrates e Átila, um bando de amantes com nomes esquisitos e profissões originais, outro ainda era uma campeã olímpica, e acima de todos esses figos havia muitos outros que eu não conseguia entender. Vi-me sentada sob essa figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia decidir qual figo escolheria. Queria-os todos, e escolher um siginificava perder o resto. Incapaz de me decidir, os figos começavam a murchar e apodrecer, e um a um caiam no chão a meus pés."

O que se faz quando algumas certezas viram dúvidas? E quando a presença das dúvidas faz-se cada vez mais certa? Escolher o caminho, o que ser, ter que ser, às vezes simplesmente perde o sentido. Por que não posso simplesmente... ser? Ir sendo. Mas tenho que ser, tenho que ser, tenho que ser. É como ser empurrado para subir no palco e entrar em cena antes da hora, ou tarde demais, sem estar totalmente preparado, sem saber a fala, o ato, o roteiro exato. Eu quero entrar em cena e sei como atuar, mas não consigo decidir em qual palco entrar? Às vezes penso que precisaria de mais dez vidas para ser e fazer tudo o que eu quero(ia) nessa vida. Às vezes, acho que não sei como chegar lá, quanto tempo se leva pra chegar e tampouco onde fica. E agora?

Alice precisou se perder para, então, se encontrar...

Cheshire Cat: [reappears] There you are! Third chorus...
Alice: Oh, no, no. I was just wondering if you could help me find my way.
Cheshire Cat: Well that depends on where you want to get to.
Alice: Oh, it really doesn't matter, as long as...
Cheshire Cat: Then it really doesn't matter which way you go.

Síndrome de Alice, sim senhor. E enquanto corro atrás do meu coelho branco, preciso ser menos Alice e deixar de viver em Wonderland - ou talvez reinventá-la. Preciso pensar menos, fantasiar menos e, depois de me perder, tentar, enfim, me encontrar.

terça-feira, 3 de março de 2009

o grave erro de viver arrependido

Arrependimento: ação de arrepender-se, contrição, pesar, remorso. Que atire a primeira pedra quem nunca martelou repetidas vezes na própria cabeça a maldita frase "Ah, como eu queria voltar atrás!" É fato que muitas coisas que fazemos (ou deixamos de fazer) mudam completamente o percurso da nossa vida, muitas vezes de forma irreversível. Mas e se, por isso, resolvêssemos nos punir a cada erro cometido em ações tantas vezes impensadas?Às vezes as coisas simplesmente não dão certo como supomos que deveriam ter sido, e daí? A vida segue e com ela devemos seguir tentando, por vezes acertando e em tantas outras errando, mas sempre com coragem para assumir os próprios erros, dignidade para arcar com as consequências e com elas aprender. Claro que reconsiderarmos nossas ações para não voltarmos a cometer os mesmos erros, ou darmos um pedido de desculpas sincero a quem com elas afetamos (embora essa seja uma atitude custosa para as cabeças mais orgulhosas), são atitudes importantes sim, mas aprender a deixar a lamentação de lado é fundamental. A cada equívoco, tropeço ou deslize, sempre virá o amadurecimento, e cada experiência com eles adquirida será sempre valiosa.
"Se eu soubesse antes o que sei agora, erraria tudo exatamente igual" - por mais que soe clichê, faço minhas as palavras de Humberto Gessinger. Já chorei por bobagem, já comi demais por ansiedade e perdi o apetite quando estive apaixonada, fumei um maço de cigarros para tentar espantar a solidão e bebi até cair de alegria quando estive em boa companhia. Escondi o que sentia por medo de sofrer, mas senti sempre da forma mais pura e intensa. Roubei um beijo, corri no meio da rua, gritei no silêncio da madrugada, fiz loucuras e depois quis esquecer, enjaular os impulsos e jurar que nunca mais faria nada sem pensar.
Mas sempre que isso voltar a acontecer, vou acordar no outro dia, abrir a janela para receber o sol, olhar no espelho e, sem medo, enfrentar a imagem que nele refletir, com todos os erros, defeitos, imperfeições e as malditas olheiras por dormir sempre tão pouco. "Eu não quero ser o que eu não sou, eu não tenho medo de errar." E, quando o medo aparecer e eu prometer a mim mesma que nunca mais deslizo, caio ou tropeço no meio do caminho, vou sair sem rumo por aí para que, no meu caminho, eu tropece de novo muitas vezes até lembrar que o que importa mesmo é viver sem culpa, sem medo de errar.